29 July 2009

CONSCIÊNCIA SEM OBJETO

Geralmente acreditamos que a certeza de que existe consciência se origina na experiência objetiva (pensamentos, sensações corporais e percepções de objetos externos). Entretanto, depois de olharmos com mais detalhe, percebemos que não é bem assim, porque a experiência objetiva, a experiência de pensamentos, por exemplo, não nos leva à conclusão de que existe consciência, mas simplesmente à conclusão de que existem objetos, por exemplo, pensamentos.

A certeza da existência da consciência precisa estar enraizada numa experiência direta daquilo que temos certeza, não derivada de uma interferência que sempre deixa uma margem de incerteza. A existência de um mundo externo na ausência de percepção é uma interferência, que, embora aceita como senso comum, deixa-nos com uma dúvida residual acerca da continuidade do mundo: da mesma forma que em nossos sonhos não estamos conscientes de que estamos sonhando, o mundo à nossa volta poderia ser uma ilusão similar à do mundo que aparece em nossos sonhos, da mesma forma desprovido de existência quando não percebido.

Precisamos, portanto, chegar à conclusão de que a certeza da consciência tem suas raízes numa experiência não objetiva, que corresponde a uma forma diferente de conhecimento, uma "apercepção" subjetiva em vez da percepção objetiva. Nessa apercepção, a consciência conhece a si mesma diretamente. Vista sob o ponto de vista da mente, ela aparece como uma compreensão instantânea, um vislumbre da realidade, uma evidência absoluta que muda a mente, uma mente que não tem conhecimento direto do agente de sua própria transformação.

A consciência não precisa de uma forma para ver a si mesma, mas, sem o espelho da consciência, as formas não poderiam mostrar-se. A dualidade forma-consciência é apenas uma ilusão similar à dualidade reflexo-espelho.


Francis Lucille